segunda-feira, 29 de abril de 2013

SLENDER


Review de Slender para PC



O humano sempre tentou controlar o medo. Há uns anos atrás, numa sessão do Fantasporto, um amigo disse-me que o filme só o assustava se ele deixasse. Escusado será dizer que não demorou muito até essa teoria comprovar-se falível. Porém, esse desabafo corroborou a nossa resistência ao susto. É nessa luta constante que as obras de entretenimento se provam obras-primas ou fracassos. Os mais críticos querem-se bem assustados, ou seja, esperam que o que estão a ver ou a jogar não recorra a truques baixos, esperam, sobretudo, serem derrotados com inteligência. 

Acabou de ser lançado Slender: The Arrival, o mais recente jogo predisposto a fazer-vos saltar da cadeira. The Arrival é a sequela de Slender: The Eight Pages, jogo lançado em 2012 que cedo atingiu estatuto de culto. Slender Man, a personagem, é a personificação desse medo. A premissa do jogo é bastante simples: o jogador tem que escapar à perseguição incessante do anti-herói. Durante cinco capítulos vão passando por diferentes locais, recolhendo vários tipos de itens. Por exemplo, numa mina terão que procurar várias partes para levar energia até ao elevador. Apesar dos itens não serem sempre os mesmos, a verdade é que a mecânica de jogo é praticamente sempre a mesma. 

Como já dissemos, a presença do Slender Man é constante e nunca o podem confrontar, ou seja, apenas podem fugir. Isto provoca alguns momentos de uma tensão palpável, nos quais as decisões têm que ser rápidas e olhar para trás não é opção. Estes momentos são alicerçados por uma atmosfera de jogo bastante rude e crua. Nunca sentem que estão em segurança e os vossos sentidos, atentos a tudo, começam a ver e ouvir coisas onde elas não estão. Em parte, The Arrival é um jogo sobre o que não está no ecrã, método que consagrou Hitchcock como um génio da sétima arte. 


Apesar dos diferentes locais e da atmosfera bem conseguida, é impossível não terminar o jogo com um sentimento de vazio. A jogabilidade nunca deixa de ser superficial. A produtora parece ter tido medo de arriscar e nem mesmo a introdução de novas personagens, tanto na história como no leque de inimigos, chega para sentirmos que estamos a progredir, que estamos a chegar a algum lado com a conclusão dos capítulos. Se fosse um instrumento musical, The Arrival tocava a mesma nota do início ao fim, uma nota enfadonha, nem grave nem aguda. Não demora muito até a repetição dar lugar ao aborrecimento apenas interrompido por mais um ou outro susto. 

Porém, se o Slender conseguir tocar-vos, estão automaticamente mortos. O problema é que o jogo não tem checkpoints e obriga o jogador a começar o nível de novo. Sim, os níveis não são enormes, mas é extremamente frustrante. Uma coisa é terem a noção que estão a ser perseguidos e que se forem apanhados é porque não foram rápidos o suficiente, outra completamente diferente é o Slender aparecer meio metro à vossa frente, não dando tempo para reagir. Nestas ocasiões, é impossível não deixar de sentir que o jogo não vos está a tratar de igual para igual, sendo extremamente injusto. Outro ponto que não abona a favor da justiça é a longevidade do jogo: em menos de duas horas já estava a ver os créditos finais, contabilizando as vezes que morri e tive que recomeçar o capítulo em questão. 

Outro dos problemas do jogo é a sua exigência técnica. Quando comecei a jogar The Arrival tinha terminado BioShock Infinite no mesmo PC, o que elimina a hipótese de estar a testar o jogo num Pentium II. Ainda assim, o jogo nunca pareceu estar satisfeito com as características da máquina, exigindo mais para suavizar a framerate. Como se não fosse suficiente, em pelo menos duas partes distintas, apareceu um erro fatal levando-me para o ambiente de trabalho. 

Slender: The Arrival vale, sobretudo, pelo ambiente que proporciona. A conjugação dos sons com o grafismo obscuro e muito seletivo naquilo que deixa o jogador ver, abre caminho para que a presença do Slender Man seja aterrorizadora. Infelizmente, a tensão não é tudo e quando conseguirem abrandar o fôlego vão perceber aquilo que verdadeiramente estão a jogar. Ainda assim, se a produtora conseguir repensar a abordagem ao género e conseguir aprofundar as mecânicas, acreditamos que este universo ainda pode vir a dar frutos.

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